quarta-feira, 26 de abril de 2017

ARCABOUÇO ACADÊMICO | CHAMADA DE ARTIGOS

1917-2017: Cem Anos da Revolução Russa na América Latina

“As repercussões da revolução de outubro foram muito mais profundas e abrangentes do que as da revolução francesa, pois, se é inegável que as ideias desta última continuam vivas, ao passo em que o bolchevismo desapareceu, as consequências práticas dos sucessos de 1917 foram muito maiores e duradouras do que as de 1789. A revolução de outubro originou o movimento revolucionário de maior alcance já visto na história moderna. Sua expansão mundial não encontra paralelos, desde as conquistas do Islamismo em seu primeiro século de existência”.
(Hobsbawm, Historia del siglo XX. Buenos Aires, Crítica, 1998).

A confluência do auge do capitalismo tardio, da universidade neoliberal, da precariedade do trabalho intelectual, do enfraquecimento do movimento trabalhista, do retrocesso da esquerda latino-americana e dos populismos de ultradireita estimularam a ideia de que as transformações provocadas em diferentes patamares pela Revolução Russa – que afetaram a vida de milhões de seres humanos -, hoje, fazem parte do passado, transformando seu legado em algo anacrônico. O surgimento de tais fenômenos contuibuiu para distorções e mesmo falsificações não apenas da própria Revolução Russa, mas também de sua influência global. Comumente, a experiência revolucionária é tachada com argumentos como, “o poder foi tomado por uns poucos”; “o partido bolchevique substituiu a classe”; “inflingiu-se um terror vermelho sobre aqueles que sustentaram o processo revolucionário, “o bolcheviquismo é o passado”, entre outros.

A consequência imediata disto foi a invisibilização das enormes conquistas da Revolução Russa em termos de questões sociais, culturais e político-economicas. Além disso, a corrosão gradual das contribuições de Lenin, Trostsky e Gramsci à história, sem mencionar o legados das combatentes camponesas; e de Krupskaya, Stassova, Kollantai ou outras mulheres engajadas, como Rosa Luxemburgo.

Mesmo assim, a Revolução Russa influenciou fortemente o continente latino-americano-caribenho com processos resultantes das consequências e resultados da Revolução Mexicana; as manifestações anarquistas das classes operárias do Brasil em 1917 (ver o clássico “1917: O Ano Vermelho”); a rebelião militar socialista Marmaduke Glove (1932), as décadas de lutas, no Chile, que vão desde a Frente Popular (1936-1941) até a Unidade Popular (1970-1973); passando pelas revoluções antiimperialistas na Bolívia (1952), Cuba (1959), Nicarágua (1979-1990) e Granada (1983); as resistências armadas pós-guerras na Nicarágua, El Salvador, Colômbia, Venezuela, Uruguai, Argentina e Brasil; a revolução bolivariana de Hugo Chávez e o Movimento Sem-Terra, no Brasil; os movimentos estudantis que se seguiram à reforma universitária em Córdoba, Argentina (1918) e perduram nos dias atuais; e os partidos comunistas, socialistas e revolucionários de toda América Latina; além de vários movimentos feministas.

A difusão dos processos e ideias não é linear. Os movimentos populares costumam mesclar diferentes influências (observe-se, por exemplo, o MST). Poderíamos afirmar que a história dos últimos 100 anos responde – de um jeito ou de outro – à influência dos acontecimentos que abriram caminho para a União Soviética. Através dos tempos, emergem variantes marxistas-leninistas, trotskistas e estalinistas, resultando em feminismos distintos; acompanhadas por um espectro de políticas desde a “revolução por etapas”, até sua rejeição por guerrilhas armadas. Normalmente, tais limites são definidos pela questão: Reforma ou Revolução? Derrotadas com certa frequência pelo imperialismo, juntamente com seus aliados neocoloniais, tais experiências buscaram se reconstituir, passando por processos constantes de composição, decomposição e recomposição.

Tensões Mundiais convida à apresentação de artigos para uma edição especial dedicada à uma reflexão crítica do legado da Revolução Russa na América Latina e Caribe, debatendo, por exemplo, múltiplos aspectos da vida social, da cultura, da arte, da educação, das ciências, da saúde, da arquitetura e da política. Solicitam-se artigos voltados aos seguintes temas (sem serem exclusivos):

1. As revoluções latinoamericanas e sua relação com o marxismo soviético (casos de estudo: a praxis histórica da educação, a medicina, as cooperativas, o cinema, as políticas externas, as guerrilhas);
2. Revoluções bem-sucedidas e fracassadas: sua relação com o Outubro Vermelho (dentre outras, a Revolução Mexicana, a Revolução Cubana, a Revolução Sandinista, a Revolução Boliviana);
3. Os feminismos e feministas marxistas: seus projetos sociais depois de Outubro;
4. As classes sociais latino-americanas e sua relação com o Outubro Vermelho;
5. Utopias, Romantismo e Revolução;
6. O marxismo de intelectuais como Mariátegui, Marta Harnecker, Che Guevara, Celia Hart Santamaría: como este marxismo respondeu ao legado de Outubro?
7. O Outubro nos projetos da “Onda Rosada”: socialismo e populismo;
8. Os partidos marxistas na prática política e os caminhos do centralismo democrático.

Por favor, preparem seus artigos originais de acordo com as normas da revista Tensões Mundiais e enviem através do sistema eletrônico, no endereço < http://www.tensoesmundiais.net > . Solicitamos também resenhas de livros relevantes ao tema desta edição. Sugerimos entrar em contato com a equipe a respeito da relevância do texto.

Prazo final para contribuições: 30 de junho de 2017
Data limite para correções: 30 de agosto de 2017
Data de publicação da edição: Outubro de 2017

Contatos:
Camila Costa (português): camila_al_costa@yahoo.com.br
Débora D’Antonio (espanhol): dantoniodebora7@gmail.com
Robert Austin (inglês): r.austin@sydney.edu.au

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